Sobre a exposição de pintura de Emerenciano na Galeria de Arte da Casa da Mutualidade

As máscaras em oposição estão fora e dentro com e sem pensamento, visíveis e invisíveis nos encontros e desencontros podem ser prenuncio de guerras. São dominadas as pequenas e pacíficas guerras quando está presente a filosofia do entendimento fraterno, mas outras guerras, não só as grandes, revelam-se trágicas, mostram o que Giorgio Agamben refere no livro O Aberto, que na realidade existe o animal humano e o homem animal. Sendo o homem animal um doente não devemos recear dizer que quando quer o poder e chega lá exerce a violência, é rodeado de criados, que protege para ser protegido, revela-se uma doença que podemos definir por animalidade desde que o mundo é mundo e não se trata com comprimidos. Era admissível que animalidade desaparecesse com a linguagem do saber reunindo o afecto, ideia que não se generaliza, só os homens e as mulheres sublimes participando numa guerrilha intelectual podem fazer a guerra à guerra, escrevem e publicam livros, falam nas televisões e nos encontros específicos, mas a audiência é reduzida comparada com a das romarias, que são aglomerados de gente inculta a confundir a crítica com a maledicência, lembrando Georges Gusdorf “trocam impressões sem nunca dialogar”, e haverá quem tenha uma faca escondida. 

Desde que comecei a pensar numa actividade considerada artística enquanto reacção a uma guerra onde fui escravo, a Guerra Colonial, não podia deixar de ter presente a procura da felicidade. Dominava ainda em Portugal a ditadura, não havia liberdade de expressão e era-me exigido algum cuidado no convívio social e familiar. Estávamos em 1973 e pensei reagir à censura, que dificultava a liberdade de expressão, com a figuração da escrita. Mais do que recusar dizer podia manifestar o meu querer dizer gritando na perspectiva simbólica, assumia uma atitude revolucionária. Agora, sem receio de uma polícia política e dos seus camuflados informadores, posso falar e sobretudo escrever sem deixar de ter presente a complementaridade da pintura simbólica, juntando símbolos que se relacionem para comunicar algo oculto, que do passado vem para o presente e pode ter implicação no futuro incerto. Desde que houve a revolução do 25 de Abril em 1974, ano em que realizei a primeira exposição individual com inauguração no dia 27 do referido mês, na Galeria Diedro em Leiria, a minha realidade justifica ainda a perspectiva de uma conduta que é informada pela realidade passada e presente, enfrento com ou sem máscara os inimigos, alguns estão disfarçados nos devaneios da vida onde os olhares se cruzam e os pequenos sinais informam que todo o cuidado é sempre pouco para evitar a tragédia.
Emerenciano
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Algumas exposições de Emerenciano

1972/73 – 1ª Bienal Nacional dos Artistas Novos – Fundação Cupertino de Miranda, Vila Nova de Famalicão

1975 – Levantamento da Arte do Século XX no Porto – Museu de Soares dos Reis, Porto e Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa

1983 – Seoul International Mail Exhibition (Mail Art) – Korea Art Center, Coreia do Sul

1983 – 17ª Bienal de São Paulo, Brasil

1985 – EXPO AICA SNBA, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa

1986 – III Exposição de Artes Plásticas – Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

1988 – 5. Biennale der Europaischen Grafik (reproduz na capa do catálogo de parte da serigrafia) Heidelberg, Alemanha

1992 – 100 Anos de Arte no Porto Cooperativa Árvore, Porto

1995 – Premi internacional d’ investigacions poètiques (Poesia Visual) – Barcelona, Espanha

2013 – Artistes-poètes, Poètes-artistesPoésie et arts visuels du XXè siècle au Portugal Centre Calouste Gulbenkian em Paris, França

2018 – Poesia Experimental Portuguesa – Caixa Cultural Brasília e Galerias Piccola I e II, Brasília, Brasil

2021 – Poesia Experimental Portuguesa (homenagem a E. M. de Melo e Castro após a sua morte) Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil

2022 – Respigadores – Casa da Cultura de Paredes; 2024 – A Arte do Conflito – Tribunal da Relação do Porto

2024 – Homenagem a Luís Vaz de Camões, Biblioteca de Paredes.

Nasceu em Ovar, onde fez a denominada instrução primária (4 anos); em Espinho concluiu 2º ciclo (2 anos); depois, na cidade do Porto, frequentou a Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, onde fez o Curso de Pintura Decorativa e a Secção Preparatória para entrar na Escola Superior de Belas Artes em 1968.

Já a frequentar o Curso de Pintura, é obrigado a interromper os estudos com o serviço militar obrigatório e a deslocação para a guerra colonial em Angola. Regressa em 1972 e, com bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, conclui em 1976 a Licenciatura em Artes Plásticas (Pintura). Da mesma instituição recebe em 1978 e 1979 um Subsídio de Investigação, apoio para fazer uma Viagem de Estudo a Paris em 1986.  Mais tarde, tem o patrocínio para duas publicações antológicas da sua pintura (1983 e 1994).

Em 1980, inicia a participação regular em exposições internacionais de Arte Postal e de Poesia Visual e, considerando importante a poética dos correios, desenha símbolos para carimbos – alguns foram empregues numa repetição sequencial em pinturas. Em 2000, representa a Câmara Municipal de Ovar num Plenário Internacional de Artistas em Pernik, Bulgária.

Está representado em diversas colecções públicas e privadas. Ao longo de vários anos, por iniciativa própria e aceitando desafios, faz retratos de escritores; entre eles destaca-se o poeta Eugénio de Andrade, com quem estabeleceu uma relação de amizade, mas em 2022 é convidado pela Tertúlia do escritor João de Araújo Correia, que se situa na Régua, para fazer 20 retratos de 20 escritores com relação ao Douro e uma exposição passou a percorrer diferentes terras da região. Preparou a sua primeira exposição individual em 1973, para ter lugar na Galeria Diedro, em Leiria, com inauguração no dia 27 de Abril de 1974 – a revolução no dia 25 não impediu que se realizasse. Pela sua importância, a segunda exposição individual foi na cidade do Porto, em 1979, na Galeria Módulo e a primeira em Lisboa foi em 1980, na Galeria de Arte Moderna da Sociedade Nacional de Belas Artes.

Sem desconsiderar a totalidade das exposições individuais, na passagem dos 50 anos de actividade, são de salientar em 2023 as seguintes exposições:

  • ESCRIPINTURAS, exposição integrada numa Homenagem ao poeta Eugénio de Andrade, na Fábrica da Criatividade em Castelo Branco;
  • com o nome CALCAR, na Cooperativa Arvore, Porto;
  • com o título QUERER DIZER no Centro de Arte de Ovar;
  • e na passagem de 2023 para 2024 uma exposição com o título O LIVRO no Museu Júlio Dinis;
  • ainda em 2024, com o título Verdade Entre Mentiras, expõe na Biblioteca Municipal de Ovar.