Ícones e Mitos

A Galeria de Arte da Casa da Mutualidade inaugura, no próximo dia 12 de setembro pelas 17h30, a Exposição de Pintura Ícones e Mitos. Esta mostra apresenta uma coleção de obras nas quais José da Costa revela um universo de mitos e ícones que permeiam a nossa cultura contemporânea.

Exposição de Pintura de José da Costa 

Na série Ícones & Mitos, José da Costa (Seixas) mergulha no universo da representação do corpo humano e animalesco desafiando os limites entre o ícone idealizado e a fragilidade humana.

Se tomarmos como exemplo a obra apresentada em cartaz, a figura está em posição de tensão, atravessada por símbolos de violência e aprisionamento – entre eles, a tesoura que oculta os olhos e os elementos que restringem o gesto e o olhar. O corpo, exposto e ao mesmo tempo ferido, revela-se como campo de conflito: entre poder e vulnerabilidade, mito e identidade. 

A escolha cromática sempre estudada em todas as obras, é aqui marcada pelo uso expressivo do rosa, subverte associações culturais e insere uma dimensão crítica, onde a cor, frequentemente associada à delicadeza, se converte em veículo de choque e desconforto. Há nesta inversão uma ironia incisiva, que aproxima o trabalho do expressionismo alemão e do neoexpressionismo figurativo, mas também do surrealismo, na forma como o inconsciente e a tensão psicológica emergem em imagens de forte intensidade emocional.
 
Mais do que uma figura isolada, o corpo representado funciona como espelho coletivo: nele se projetam angústias, desejos e contradições de uma sociedade que eleva o corpo masculino ao estatuto de mito, mas ao mesmo tempo o fere, o aprisiona e o consome enquanto imagem. 
Imagem com fundo cor de rosa de um ícone da cultura Pop António Variações a segurar uma tesoura em frente da Cara
O artista convoca-nos a olhar para além da superfície – para além da pele, do ícone e da aparência –, revelando o peso invisível do sofrimento e da fragmentação identitária. A série, assim, não apenas evoca os arquétipos clássicos do herói e do mito, mas também os desconstrói. José da Costa (Seixas) transforma o corpo num palco onde se encenam forças opostas: beleza e dor, desejo e anulação, fascínio e repulsa. 

O resultado é uma obra profundamente perturbadora e poética, que resiste à passividade do olhar e exige do espectador um confronto direto com os paradoxos da condição humana.

Christine Francisco (Curadora)

 

Sobre a Curadora

Especialista em Pintura a Óleo, Acrílico, Técnica Mista, com vasta experiência em técnicas clássicas e contemporâneas e na Arte Decorativa.